segunda-feira, 18 de março de 2013

Narciso



Que criatura mais adorável e pura
É esta, que, nas águas claras deste lago
Minha visão, turva e confusa, captura?

Nunca tinha a visto, mas, com clareza
Agora apresenta-se aos meus olhos
A exuberância de sua complexa beleza.

Queria possuí-la; ao lago adentrei.
Pertenceria, pensava, a algum rei?

Minha presença a afastara, no entanto.
Logo eu, Narciso, um deus do encanto.

Nem todas as formosas moças do reino
Bastaram para mim. Meu verdadeiro amor,
Neste intante, teve seu trágico fim.

sábado, 16 de março de 2013

Fotografia



Virada ao contrário,
Em cima do móvel,
Dentro de uma caixa,
Tentei esconder
Uma única lembrança
Que me resta de você.

A imutável imagem,
No entanto, se revela:
Não é mais estática,
Move-se em sua cela.
Fugir quer e pede
Para voltar a sorrir.

Ela olha para mim,
Pede liberdarde.
Ignoro, aprisiono,
Conheço sua maldade.

À suplicante imagem,
Repleto de sofreguidão,
Apenas peço, suplico,
A distância de meu coração.