quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Laranja Mecânica

Há algum tempo, minha família tratava o filme como uma obra proibida, repleta de violência e censuradíssima para uma criança de, à época, 12 anos. Tal restrição só atraiu um maior interesse de minha parte. Aluguei em DVD e fui proibido de ver após minha mãe ler a censura “PROIBIDO PARA MENORES DE 18 ANOS”. Ela viu antes de mim e confirmou a coerência na proibição. Não pude assistir.


Alguns anos depois, vejo que está passando no canal “Telecine Cult” e resolvo ver sem que meus pais saibam. Meu interesse foi gigante: o personagem Alex, mesmo com toda sua maldade e ultraviolência, consegue trazer um pouquinho de semelhança com cada um de nós e não conseguimos desgostar dele. Tal identificação é favorecida pela excelente atuação de Malcolm McDowell, comandada pelo rigoroso diretor Stanley Kubrick. Tudo no filme me atraia: desde a maldade de Alex, até o glossário nadsat e a lição que o filme traz. Tal lição incompreendida pela maioria do público, principalmente por parte daqueles que não leram o livro, o qual, após ver o filme centenas de vezes, resolvi ler e só serviu para aumentar minha paixão pela obra.


"... A tentativa de impor ao homem, uma criatura evoluída e capaz de atitudes doces, que escorra suculento pelos lábios barbados de Deus no fim, afirmo que a tentativa de impor leis e condições que são apropriadas a uma criação mecânica, contra isto eu levanto minha caneta-espada..."


A frase acima, contida no livro, quando Alex invade a casa do escritor e lê uma obra, “Laranja Mecânica”, que trata da manipulação do estado sobre os jovens, ajuda muito na compreensão da lição que a obra pretende passar. Não há outro método de mudarmos, se não por nossa própria vontade. Quando o personagem principal é submetido à técnica Ludovico para ser transformado em uma pessoa boa, a mudança é apenas temporária e, quando desfeita, ele volta a ser a mesma pessoa de sempre, praticando sua maldade e ultraviolência pelas ruas da cidade, desta vez com novos “druguis”, já que os antigos amadureceram antes dele. Quando Alex vê um de seus antigos companheiros de assaltos e estupros noivo, vivendo uma vida normal e feliz, ele percebe que chegou a hora de amadurecer. Cansa-se das “brincadeiras” e quer ter para ele também uma vida “normal”, longe das confusões de outrora.


Apesar de o assunto do comportamento humano, abordado com bastante intensidade durante o período em que Alex está submetido à técnica Ludovico, ser o principal assunto do livro, a obra também pretende mostrar a desonestidade da polícia, presente não só no contexto do livro, mas também em vários lugares do mundo até hoje. Os antigos malfeitores passam a “defender o Estado” durante a obra, e usam e abusam da violência, não só para cumprir seus papeis, mas também para se proporcionarem um pouco de diversão à custa dos outros.


Kubrick passou o livro às telonas com maestria, driblando a censura mudando a idade de alguns personagens. Só pecou ao tentar adotar um final sem esperanças, ao contrário da obra literária.

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